Entre a caridade e o poder. O que quer o papa?

O papa Jorge Mario Bergoglio, o Francisco, tomou posse do pontificado em abril deste ano, é argentino e de origem jesuíta, a mesma ordem responsável pelas missões da igreja católica na América do século XV. As posições mais polêmicas da igreja católica, referentes ao aborto, direitos das mulheres, matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, as riquezas da igreja, ainda são questões intocáveis para a instituição que possui dogmas seculares. Ainda assim, toda a grande mídia aponta para um papa diferente, com novos pensamentos, quase um revolucionário. Bergoglio fala em seu primeiro discurso como papa da piedade divina, fala no Brasil de caridade e da pobreza, chegando a afirmar que vem até o Brasil, mas, que não traz “nem ouro, nem prata”. Seu discurso inicial no Brasil foi rápido, as próximas palavras serão em missas privadas, que ocorrerão ao longo da Jornada Mundial da Juventude.
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Embora os meios de comunicação tenham ofertado grande atenção ao pontífice, as reflexões necessárias a serem feitas são bastante limitadas. O papa diz que não traz ouro, mas usa uma cruz de prata e de certo não é por medo dos vampiros. Em 2011 o Vaticano obteve um rombo no orçamento de US$ 18,4 mi, fruto da baixa nas doações à igreja e, segundo os cardeais, em virtude da crise econômica mundial (pois é, nem o vaticano escapa ao mercado financeiro). Ainda assim, a igreja não tem do que reclamar, o Instituto per Opere di Religione(IOR) ou Banco do Vaticano, gere em ativos cerca de US$ 6 bi, segundo reportagem da revista Exame. Se tudo caminhar bem, em pouco tempo a cruz de ouro volta para o pescoço do papa.
Outra questão, não menos importante, é a perda do rebanho. Entre os anos 2000 e 2010 a igreja católica perdeu 1,7 milhão de fiéis só no Brasil. Em 2010 foram 180 mil na Alemanha que se despediram do catolicismo. Nada melhor do que um jesuíta para cumprir com a tarefa de missionário. Basta ler os livros de história e veremos o papel destes na história do Brasil. Embora houvesse alguns conflitos com os colonos, para Portugal estes foram importantíssimos, na construção da linguagem, na educação da obediência e outros elementos fundamentais para inculcar-lhes a ideia de ser colonizado.
Ainda há uma questão extremamente importante. Não podemos esquecer que novos elementos têm se colocado a frente da vida das pessoas com a vinda de mais uma crise do capital. Há mais de quinhentos anos o Brasil busca uma identidade consigo mesmo. Agora, há algo que nos une. Somos todos Eliana Silva, somos todos jornalistas ninjas, somos os estudantes presos, somos as mulheres violentadas, somos os explorados. Esta identidade tem crescido no mundo e a saída para esta condição não é mais a religião. As pessoas têm buscado solução para seus problemas e esta solução tem se apontado cada vez mais na forma da massa de fazer política, isto é, nas ruas. Não é só no Brasil, mas na Europa, no Oriente Médio, nos EUA. Não se espera mais por caridade, se almeja o poder popular. Nesta conjuntura, o papel da igreja não pode ser outro a não ser o de tentar ser um norte diferente deste que está sendo apontado pelas lutas sociais no mundo, um norte em que esperar a caridade dos governos, dos banqueiros, dos industriais é mais justo do que tomar de volta seus bens para os trabalhadores. Para chegar a este objetivo é que o papa vem pregar, tentar arrastar novos fiéis e de quebra garantir uns dízimos a mais. Então, afinal de contas, o que quer o papa?

Leia também:

http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-lino/papa-e-um-feliciano-com-muito-mais-poder-e-o-apoio-da-globo-2361.html

http://averdade.org.br/2013/04/o-papa-e-pop-mas-nao-e-santo/

2 comentários sobre “Entre a caridade e o poder. O que quer o papa?

  1. Muito bem Daniel ou quem tenha sido responsável pela matéria, que sem dúvida apresenta bons argumentos. O momento realmente é outro, mas li completamente a matéria na esperança de ver se você iria debater sobre “não tenho e nem prata” e acho que talvez seja aí que você não tenha sido “feliz” em sua pergunta questionadora “o que quer o papa?” Mas de qualquer modo você conhece a História não é?!

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